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Minha vida de múmia paralítica (com bracinhos de Horácio).

  • Foto do escritor: Juliana Netto
    Juliana Netto
  • 11 de set. de 2019
  • 7 min de leitura

Então, numa quinta-feira à noite, dia 29 de agosto, recebi a mensagem de uma médica, se identificando como a pessoa que faria a marcação pré cirúrgica e, descobri desse jeito, que minha cirurgia estava agendada para dia 04 pela manhã. Fabuloso! Descobri assim, no susto, que eu iria operar e só tinha três dias úteis pela frente, pra organizar a vida. Tô acostumada com esses absurdos, né nom? Se fosse organizado, não seria minha cirurgia. Só pra ter uma idéia, na terça passada, às 11:00h da véspera da cirurgia, o plano não tinha sequer autorizado a parte da cirurgia plástica, que dirá fazer a cotação e liberação de compra do material cirúrgico. Por fim, a Casa de Saúde São José resolveu ligar pro convênio pra dizer que iria remarcar a cirurgia. Daí foi um tal de "Ah, mas a cirurgia vai acontecer amanhã, sim!" do Dr. M, "A casa de saúde não tem esse direito" do Dr. XY, eu cas mão nas cadeira, rodando, descendo o barraco de salto alto, até que eu fiz amizade com o atendente Marcellus, do FioSaude. Que pessoa iluminada, o rapaz! Fui uma seda, tipo princesa da Disney, gastei todo o meu carisma e gentileza. "Marcellus, veja minha situação... Tenho certeza de que você vai poder me ajudar!". Eu já tinha implantado a tal semente de iodo na mama, às 8h da manhã daquele dia maravilhoso, desembolsado o valor da córnea esquerda, que não é grandes coisas, lá no CDPI do Leblon, onde, acredito, da próxima vez que eu aparecer pra fazer exame, vão me entregar um hobby de viscose personalizado, por pontuação no programa de milhagem dos laboratórios. Eu estava pedindo um Uber pra ir ao salão fazer as unhas, pintar as sobrancelhas (bom, elas tão carecas e eu sabia que ia ficar com braço de tiranossauro Rex, não ia conseguir fazer uma make razoável, e ficaria com cara de quem fugiu da geladeira do IML), e fazer uma escova, porque ia encarar uma semana sem banho, sem poder lavar os cabelos. No meio dessa programação toda, vem a São José querer cancelar a cirurgia? Ah, mas não mesmo, queridinha! Algumas horas no telefone e, às 17h, a cirurgia estava liberada para acontecer na manhã seguinte. Muita, mas muita emoção! No grande dia, ou seja, no dia da cirurgia, eu tive que voltar ao bom e velho CDPI pra fazer a marcação dos linfonodos sentinela, às sete da matina. Olha, resiliência é a palavra! Na véspera, pra marcação com a semente de iodo, fiquei cos peito tudo de fora, sentada numa cadeira, apertada na máquina da mamografia, com a médica e mais seis caboclos me olhando, como se estivesse num hospital universitário...mas não, tava pagando 1660 Mitos pra fazer a exibição da minha figura semi nua, pra um Maracanãzinho inteiro, e ninguém pediu licença ou sequer explicou o porquê daquela audiência toda. Quem já amamentou não tem muito desses pudores, então toca o bonde, coxeiro! Era a última exibição pública daqueles velhos peitos cansados, quem estava ligando? Do CDPI, fui pra São José, onde a Rex me esperava na recepção. Depois chegaram a anes$te$i$ta, meu amigo Wallyto e minha cunhada Bárbara. Coloquei aquela camisola da humilhação, que deixa a gente com a bunda de fora, tomei meu Dormonid e fui pro centro cirúrgico umas 12:10. Só me lembro de voltar pro quarto umas 20:30, com a língua meio enrolada mas super consciente. Consciente o suficiente para fingir demência quando vi a ane$te$i$ta de pé, se lamentando porque eu não havia deixado os cheques assinados, segurando um envelopinho verde, bem menininha, com os recibos pelos honorários dela. Lembro que Mona, Elaine, Cris, Heleninha e Renata estavam esperando, fazendo companhia pro Guga. Dei um oi geral e foram todas embora, menos a Renata, que é médica e segurou pro Guga sair pra fazer um lanche. Ela me ajudou a comer um pão com polenguinho e tomar um suco (nossa, como não gosto de suco de hospital). Não consegui nem esperar os tais SOS da noite, e apaguei que nem a Bela Adormecida do Congo. Dia seguinte, às 6h, uma moça queria tirar a sonda do xixi, mas avisou que eu só poderia levantar depois do café, que só seria servido uma ou duas horas depois. Fui eu ser chata e falar, "Pois então deixa a sonda até depois do café". Minhadignidade já tava abalada o suficiente pra ainda ter que fazer xixi na cama. Eu, hein! O resto do dia transcorreu bem, com aquelas mil visitas da equipe, incluindo uma freira que foi levar a palavra de Deus, e uma fisioterapeuta que deu aquele toque maroto sobre como os "pets" poderiam me derrubar no chão e causar uma tragédia. Aí eu pensei em como seria conviver com os melidogs (como Guga chama os nossos cachorros, segundo ele, meliantes) e os drenos pendurados... Adianto que, no fim, tudo deu certo e eles respeitaram os drenos, que passaram incólumes, sem nenhuma dentada. Ainda na quinta, chovia como se não houvesse amanhã nesse Ridejanêro. Eu olhava a chuva caindo, pelo janelão do meu quarto. Aquele tempo preguiçoso, lento, aquele dia em câmera lenta. Depois daquele almoço "gourmet" de hospital, bateu aquele soninho. Apagamos as luzes do quarto e fomos tirar aquele cochilo merecido. Semana passada foi uma semana tão cansativa, que vou precisar de um mês pra me recuperar dela... Dormíamos o sono dos justos, quando a paz foi interrompida por uma senhora que irrompeu no breu do quarto, se anunciando como psicóloga, acompanhada de duas estagiárias, uma delas no melhor estilo chinês, com uma máscara na boca. Blablablá, viemos conhecer você, blablablá quem é o acompanhante, e eu muda. Até que botei pra fora: "Estamos dormindo aquele sono pós almoço". Pra bom entendendor: vaza! Ela vazou, mas voltou no fim do dia, quando eu ia jantar. Ai, p*, que coisa chata! Fiz a linha Caras, fingi gratidão com a visita e, gentilmente, despachei de novo a equipe do trem fantasma. Uma pessoa que nunca te viu, aparece perguntando se você tem um plano de tratamento (no caso, eu estava ali justamente cumprindo uma etapa dele, neam?), como você está fazendo pra "segurar essa barra", e outras coisas que a pessoa não quer debater com um estranho, no dia seguinte de arrancar os dois peitos. Na verdade eu só queria descansar, e ir pra minha casa. Dr. M apareceu umas 20:30, pra fazer o curativo e me dar alta. Rafa apareceu nessa hora, e ajudou o Guga a carregar as tralhas pro carro, além de voltar dirigindo, tipo Uber Friend.


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Seguiram-se dias em que eu parecia um cruzamento de Tutancâmon com a namorada do Horácio, o dinossauro, fantasiada de mulher bomba. Um colete preto, com canos e dois coletores que mais pareciam granadas, pendurados nele. Não posso levantar os braços, nem carregar peso, nada de dormir de bruços ou de lado, só de barriga pra cima. Imaginem as bandas como não ficam... Ganhei um "coçador" da minha mãe e da minha irmã, pra ajudar a lidar com a pinicação que eu arrumei com o anti inflamatório. Imaginem a cena: eu na poltrona, com os cachorros em volta, coçando as costas com uma haste rosa. No fim de semana, Rex, Roger e Pri vieram me visitar, e trouxeram um kit chic no último pro meu primeiro banho pós cirurgia. Dorinha também veio, com os pais dela. Coisa mais linda essa afilhada!


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Os primeiros dias foram amenos, temperatura civilizada, cheguei a sentir frio. Só pra dar aquela enganada, porque logo depois veio aquele braseiro do Morninho, pra pinicar esparadrapo, apertar o curativo a prova de balas, esquentar a relação coletor de dreno e pele. Grazadeus ontem teve Dr M de novo, e ele tirou os drenos. Pedi para caminhar na orla, e ele disse que só antes das 08:30, porque não posso pegar sol. Armaria... Quando eu estava saindo do consultório, ele disse pra eu não inventar muita moda no sol, pra dar preferência a ir à São Salvador, depois que o sol sumisse. Não vai ser difícil obedecer. Parece que vai rolar um pedalzinho no rolo daqui a duas semanas, tô trabalhando o psicológico do meu dotô. Ontem de manhã, antes de tirar as "granadinhas" dos drenos, eu nāo aguentava mais ficar trancada em casa. Siri na lata é pouco pra descrever minha sensação de estar há uma semana indo do sofá pra cama, com algumas visitas à cozinha. Pedi pro Guga me levar de carona quando fosse deixar João na escola. Ele não só me levou ao passeio pelo belíssimo Rio Comprido, como depois dirigiu até as Paineiras, lugar que ele sabe que é muito importante pra mim. Eu olhei a vista, senti o cheiro do mato e molhei o rosto na água que caía das pedras. Uma sensação de renovação total. Como eu não tinha comido pela manhã, lá pelas 11h eu tava morrendo de fome, então paramos no Café Maya. Eu tava cheia de drenos, com as ataduras do curativo saltando pela blusa, mas eu não tinha mais vergonha de nada nessa vida. Sentei, comi meu pão com ovo, tomei um espresso duplo e fui muito feliz.


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Eu não vou negar, aquele passeio me deixou muito, muito cansada. Cheguei casa e dormi...mas dormi muito, quase até a hora em que o Dr. M me libertou dos drenos. À noite encontrei alguns amigos da Praça, recebi abraços energizantes. Aquele jeito de roça dos nossos encontros. Eu estou renovada, de corpo e espírito, ou melhor, de energia. Hoje tenho perícia, junta médica do Ministério da Saúde. Vou precisar de falar da doença, do quanto não sei o quanto ainda falta pro final dessa saga, mas estou sossegada. O cajá não habita mais o meu corpo. Tenho cinco linfonodos negativos para metástase. Suvaco limpinho! Então vamos que vamos e espero, em breve, estar de volta ao trabalho, aos meus pacientes, à essa parte da minha vida que também me define enquanto ser humano. Espero ainda ter muitas histórias para contar e espero poder ajudar muitas pessoas, assim como Dr XY, Dra XX e Dr M me ajudaram a chegar até aqui. Cheia de vida, e com muito amor para dar!

 
 
 

1 comentário


castrofernando5
11 de set. de 2019

.... Blá blá lá, viemos conhecer vocês! Blá blá lá, até que botei prá fora (sic) rsrsrsrs

.......Limpinho! Então vamos que vamos e espero em breve está de volta ao trabalho, aos meus pacientes, à essa parte da minha vida que também me define enquanto ser humano....(sic)

ESTAMOS ESPERANDO A SENHORA COM MUITO CARINHO, PODE TER CERTEZA DISSO.

JURO QUE QUANDO FOR A CONSULTA NÃO PERGUNTAREI NADA, PARA NÃO SER IGUAL AQUELA, AQUELA PSICÓLOGA CHATA... RSRSRSRS.

AH?! MUITO OBRIGADO PELO PRESENTE Q A SENHORA ME DEU NAQUELE FIM DE ANO! MUITO OBRIGADO MESMO!.

SAÚDE! AÍNDA BEM Q O CAJÁ ESCAFEDEU.


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