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Novamente de hobby de viscose

  • Foto do escritor: Juliana Netto
    Juliana Netto
  • 10 de ago. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 11 de ago. de 2019

E chegamos aos finalmentes da primeira fase do tratamento. Mês passado, fui ao Dr. XY e ele me pediu pra repetir um monte de exames. Lá fui eu pro CDPI do Leblon vestir novamente o hobby de viscose. Dessa vez, a técnica de enfermagem já me reconheceu e me recebeu com aquele boa noite animado. Segunda-feira, um horário menos disputado, em que as idosas já estão em casa assistindo a novela de época, tinha expectativas de que não teria muita concorrência e sairia de lá bem rápido. Pros padrões CDPI, de fato estava bem vazio. Coloquei o hobby e uma das moças fez questão que eu tirasse os sapatos e colocasse aquelas sapatilhas transparentes. Achei desnecessário, mas não tava a fim de arrumar tumulto, então acatei. Fui encaminhada para um box pra puncionar o acesso pra fazer o contraste. Fiquei espantada, porque no mini box já havia um rapaz, com aquela pinta de Patrick da família Orléans e Bragança, deitado numa maca. Pelo que entendi, o jovem tinha tido algum piripaque durante um exame. Eu achei de última ficar ali de hobby de viscose e sapatilhas, com o pé naquele chão frio, dividindo o mini box com o garoto dos memes, ainda mais que ele queria puxar assunto e eu não estava disposta a interagir. A ressonância é aquilo. Não basta você estar com a dignidade abalada naqueles trajes, tem que abrir o hobby e enfiar os peitos nos buracos do suporte, de barriga pra baixo, a cara no breu. As mamas penduradas de cabeça pra baixo, e a esteira te levando pra frente e pra trás. Dessa vez, eu não tinha aquela ansiedade da primeira leva de exames, até porque já tenho muitos pontos no cartão de milhagem da rede de laboratórios. Quando eu fiz o diagnóstico, foi uma radiologista simpática do Labs do Flamengo que me atendeu. Ela soube que eu era infectologista e anotou meu telefone. Semana passada, quando entrei na sala pra fazer o ultrassom de acompanhamento, ela abriu aquele sorriso e mandou um "Sabe que eu ia te ligar?" Eu imaginei que fosse por causa do exame, mas ela continuou com "Fiz uma angioedema depois de uma vacina". Esse é meu mundo. Eu recebo um diagnóstico de câncer de mama e faço amizade com a radiologista, taokey?

Voltei no Dr XY carregando tanto exame, que a sacola rasgou com o peso. Eu até peguei o grampeador da Whoopi Goldberg tupiniquim pra dar uma remendada, mas o adequado praquela tonelada de papéis e filmes, é uma mala de mão mesmo, então a sacola rasgou de novo logo que eu dei uns dez passos. Dr XY ficou muito satisfeito com o resultado da quimioterapia, estava todo pimpão. Hoje entendo que ele deve twr ficado apavorado quando eu entrei lá com aquele caroço de cajá. Ele fez o parto do João, cara... Agora, além da bateria do pré operatório, vou ter uma consulta com o cirurgião plástico. Bapho! Tô louca pra escolher as próteses definitivas! Fiquei super decepcionada porque descobri que não estarei com os peitos novos no próximo carnaval. Aff! Eu já avisei pra ele que quero um modelo pequeno, pra não atrapalhar a corrida. Já que vai mexer, a gente aproveita pra dar aquele upgrade. Como vou ter que fazer radioterapia depois da cirurgia, vou colocar umas próteses provisórias, chamadas expansores. Acreditam que os tais expansores são inflados de tempos em tempos, até chegar no tamanho necessário? No meu caso, vão ser inflados além do tamanho que eu pretendo ostentar, pra garantir que vai ter um espaço bacana pras próteses definitivas. Eu contei pra Whoopi que eu só ia usar camiseta de alcinha e nunca mais ia usar soutien. Ela me mandou aquele olhar todo seu, por cima dos óculos de leitura, e comentou que podia passar trinta anos no consultório do Dr XY que não ia ter escutado de tudo nessa vida. Na outra semana, teve a última consulta com a Dra XX antes da cirurgia. Ela se despediu com um sorrisão de dar gosto, e agora só nos vemos quando eu tirar os pontos.

Depois da última quimioterapia, eu fiquei com aquela sensação de ter tomado banho na máquina de lavar, ciclo limpeza pesada para roupas muito sujas, com direito a quinze minutos de centrifugação. Começa uns dois ou três dias depois da infusão, e só vai passar mesmo umas duas semanas depois. Dessa vez doeu tanto, que fiz uma contratura e fiquei com dor "ciática". Tudo bem, foi a última! Agora até tem medicação na veia, mas não tem quimioterapia! E nunca mais vou passar sete horas na poltrona do papai, de cuca fresca com a touca inglesa. Teve seu valor. Foi importante, me deu vida! Mas grazadeus que acabou! Aliás, sobre essa percepção de que ganhei o direito à vida, teve uma passagem curiosa. Eu não tinha pego as imagens da primeira ressonância, apenas recebido o laudo por email. Talvez um ato inconsciente de não querer ver concretamente o problema. Na véspera da viagem pro México, quando repeti os exames, peguei finalmente as imagens e, confesso, fiquei espantada. Foi bom não ter visto antes... Eu me senti mais uma vez, dentro das possibilidades, sortuda pra caramba. Aquele cajá era um cajá de respeito, parrudo e maldoso, mas fez a gentileza de ficar restrito à mama. Que sorte a minha! Quando subimos as pirâmides de Teohuatican (não me perguntem como eu consegui chegar lá em cima no meio da quimioterapia, não saberia responder), eu fiquei com lágrimas nos olhos por ter tido a oportunidade de viver aquilo. Fiquei emocionada mesmo. Eu estava viva e bem! Poderia ter sido diferente, mas não foi. Sim, sou sortuda bagarai! Agora, tô aqui esperando o moço da Brahma entregar o chopp do dia dos pais. Data comercial, coisa e tal, mas vai ser o primeiro almoço de família do ano em que não vou estar esperando a próxima QT, eu não vou mais estar de touca (assumi a pouca telha que tenho, e sei que a partir de agora, os fios tendem a crescer, não a cair), a resposta foi excelente e eu terminei a primeira fase do tratamento sem intercorrências sérias. A "ciática" tá melhorando e eu consegui levantar da cama, sabendo que não vou mais precisar sentir isso de novo. Amanhã eu vou estar com a família toda, com todos os sobrinhos, aquele monte de amor e de vida. A gente fala alto, a gente às vezes discute, mas eu tenho uma família incrível. Sabem aquele filme Casamento Grego, quando tá todo mundo falando alto junto na cozinha? Podem vir cirurgia, radioterapia, mab de cá e mab de lá, peitos provisórios, peitos definitivos, mas eu tô na área, na revolução.

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