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Não teve planilha, teve Frank Capra e filme Kodak

  • Foto do escritor: Juliana Netto
    Juliana Netto
  • 19 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Essa semana foi peculiar. Na terça, eu até tinha tentado pedalar, mas fui tomada por uma vontade imensa de me jogar no chão pedindo clemência, após meros 30 minutos. O que se assucede é que, quando a gente tá fazendo quimioterapia e toma um monte de corticóide junto com o chemocombo, a massa muscular põe-se a consumir-se. Consumir a pança que é bom, nada, né? Enfim... Eu tava lá, rachitágui chattyada de não conseguir fazer exercício, sentindo uma fraqueza nos braços como se eu tivesse atravessado Copacabana a nado em dia de mar mexido (e olha que até hoje nem consegui aparecer na piscina da Cynthia), e com pernas de pós maratona, mas era só consumição pelo tratamento mesmo. Precisei escrever pro meu endócrino do coração, o Dr. Leo Eksterman, pra ele me falar que eu estava muito catabólica. Não venham me dizer que sou médica e já devia ter pensado nisso. Agora eu estou paciente, tem horas que esqueço tudo que eu já li e estudei nessa vida e quero mesmo é um bom médico pra cuidar de mim. 


Tirei a quarta de folga de atividade física, pra me recuperar daquele fastio. E-mail, plano de saúde, secretária de dotô de Curitiba me dizendo pra depositar 950 Mitos se eu quisesse uma consulta "virtual" (issaê, 950 suadas petecas pro dotô falar comigo pelo Skype) e uma conversa surreal com o gerente do banco, que me ligou pra oferecer algum serviço. "Alô, Juliana! Aqui é Fulano, tudo bem?". "Oi Fulano, poderia estar melhor se eu não estivesse tratando um Ca de mama, nāo estivessem cortando as verbas da educação e o pessoal tirando do  bolso pra fazer pesquisa". Silêncio... "Ô, Juliana, liguei mesmo pra saber se estava tudo bem com você. Tenho certeza de que você é forte e vai superar tudo isso. Qualquer coisa me liga". Acho que esse aí vai esquecer meu telefone por um bom tempo, foi o que pensei... 


Quando me dei conta, já era noite. Resolvi dar um rolê pelo Largo do Machado com meu comparsa João. Queria mesmo estar na manifestação, naquele Tsunami da Educação mas, infelizmente, dessa vez fiquei  apenas mandando o idiota inútil se ferrar de longe mesmo. Farmácia, presente de aniversário pro Guga, uma parada na casa de sucos e toca pra loja de suplementos comprar minha poção mágica com whey protein isolado do leite das vacas livres, energizadas e abençoadas pessoalmente pela mãe Gaia. No subsolo dessa loja, funcionava uma locadora que foi o fervo do bairro na época áurea do VHS e depois do DVD. A Rose, funcionária tombada pelo patrimônio imaterial das Laranjeiras, viu gerações crescerem, terem filhos, acompanhando tudo do balcão onde registrava a entrada e saída dos filmes. Eu perguntei por ela, meio sem esperança mas, pra minha surpresa, o rapaz dos suplementos pra maromba (que disse que lembrava de mim grávida e ainda sabia nosso endereço) falou que ela estava lá no subsolo, vendendo os filmes clássicos que haviam sobrado. João abriu um sorriso de mostrar todos os dentes quando ouviu falar na Rose. Foi nosso programa quase diário, por anos a fio, lanchar e ir à locadora depois da escola, antes do streaming dominar nossas vidas. Descemos as escadas e os filmes estavam lá, agrupados e ordenados em ordem alfabética pelo nome dos diretores, aquele paraíso pra uma moça cartesiana! A loja estava quase fechando, mas deu pra garantir Aconteceu Naquela Noite, filme do Frank Capra estrelando o Clark Gable e a Claudette Colbert, o Jules e Jim do Truffaut,  e deixar 10 petecas de crédito pra comprar mais filmes no final de semana. 


Voltamos pra casa e João, que está tendo aula de fotografia no CApUERJ, passou o resto da noite se encantando com o que encontrou em uma antiga bolsa que herdei do meu pai, quando resolvi estudar fotografia. Uma Pentax analógica, toda manual e com uma capa de couro, filtros Hoya, flash gigantão e o melhor: um filme fotográfico asa 400, da Kodak, fechado na caixa, com validade expirada em 2006. Coisa boa não cumprir planilhas e dar uma chutada de balde de vez em quando. Eu terminei a noite com meu chá, Spark dormindo no meu pé, um livro que ganhei de um amigo que é Olavo, mas não é de Carvalho, e uma paz que há anos eu não sentia. 


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Quinta-feira, foi aniversário do Guga, o mais taurino de todos os taurinos. Eu já recuperada, ligada no 220V, e ele curtindo o dia no seu ritmo particular. Casais são assim, improváveis, às vezes inexplicáveis, mas se não fosse assim, que graça teria? Foi com esse cara que eu escolhi passar o resto da minha vida. Com ele temos construído uma história tanto bonita quanto cheia de momentos que eu só posso afirmar que não são lenda urbana, porque participei pessoalmente dos fatos. Qualquer hora eu vou falar sobre isso aqui, porque merece capítulos à parte.   


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5 comentários


monica.louback
27 de mai. de 2019

Ju ri sozinha! Muito bom esse seu whey. Mande notícias. Beijos

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ildenercarmo
23 de mai. de 2019

Ju vc é sem igual.Nunca na vida conheci alguém tão forte,destemida divertida e amável.Enquanto vc não retorna p aquelas gargalhadas no final davtarde acompanho por aqui .bjks💟


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Juliana Netto
Juliana Netto
20 de mai. de 2019

Lê, vou passar o recado pro João! Agradeço enquanto mãe coruja. Pri, lembrei como era bacana fotgrafar, levar pra revelar, e ficar na ansiedade de não saber o que esperar como resultado. Às vezes saía cada coisa😂😂😂

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priscilapollo96
20 de mai. de 2019

Ju, essa máquina é o máximo hein?? amei!!!!

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letcotrim
20 de mai. de 2019

Ju, seguindo vc agora por aqui também 😉. Te mando um beijo gigante cheio de força e admiração, e parabéns atrasado pro Gustavo, e mais um pro João. O panetone de Páscoa foi traçado pela família em poucas horas, de tão gostoso, conta pra ele por favor. ❤❤❤❤❤😘😘😘😘😘

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