O Trono de Ferro

Ontem foi um dia especial. Há exatamente dois meses, eu saía da primeira consulta com o Dr. XY. Saí de lá uma pilha e, só não fui direto pro escritório mais próximo da Sinaf, porque caiu um dilúvio e foi mais conveniente ficar fazendo a linha Invasões Bárbaras em Botafogo. Ontem, foi dia de consulta com a minha fada, a Dra. XX, pra avaliar a resposta ao tratamento e me liberar pro último ciclo da quimioterapia vermelha. Depois do exame físico, a notícia foi que agora não há mais um nódulo bem definido, tem um negócio tipo um pãozinho de queijo amassado, com mais ou menos metade do diâmetro do cajá inicial. Eu diria que um cajazinho atropelado. Amanhã tem quimioterapia, vão me perguntar como as minhas madeixas de comportaram. Ai, que infortúnio! Comprei um shampoo anti resíduos, toda pimpona, achando que ia fazer benzão pros meus cabelos, mas... Misericórdia! Aquela espuma do sete peles embolou meus cabelos em quatro grandes ninhos, onde não entrava nem agulha! Eu não acreditei quando me dei conta de que tinha passado por dois ciclos do Lysoform Rubro mantendo a cabeleira (graças à amigona touca inglesa), mas ia ter que fazer uma tosa pra tirar aqueles nós. Eu tava pior que o Spark quando tem que fazer desembolo. Enfim, quando me virem na rua de bandana, nem perguntem se foi a quimioterapia, pra não causar climão comigo. Agora, eu tenho um cabelo com falhas e um braço que vai me valer ser aceita pelo professor Xavier na turma dos XMen. Pode-se ver todas as veias a olho nu, como se estivessem iluminadas pelo vein viewer. Como nada é fácil nessa vida, o quarto do João está sendo reformado. Depois das últimas chuvas, entraram Noé e a arca toda pelo teto, uma inundação que vai me custar mais um rim, e olha que eu já gastei os meus dois pra pagar a última obra. Lá fui eu, cansada e anemiada, pra Leroy Merlin. Três horas naquele umbral... Mas eu não posso dizer que o pessoal do marketing não tá ligado mas tendências. Na entrada da loja, uma grande instalação com um trono, feito com um vaso sanitário, onde se lia "Tire sua foto aqui", cercado por espadas toscas, rodeado por duas paredes de escovas de limpeza (de vaso sanitário) disfarçadas numa capinha de inox, recebia os clientes. Uma versão tupiniquim bem infeliz do iron throne, de GoT. Deve ter um funcionário escondido atrás da placa, com uma câmera fotográfica, registrando a reação dos clientes, tipo pegadinha do Silvio Santos (esconjuro, pé de pato, mangalô, três vezes). Seguindo pelos corredores da falência, dei de cara com adesivos do Romero Britto para pás de ventilador de teto. Realmente, não há limites para a criatividade humana e nem sempre os humanos são felizes em suas criações... Toca pra mais uma sessão do chemocombo. Em nome do Pai, do Filho e do Lysoform Rubro. Amém