Uma conta cheia de números...
- Juliana Netto
- 27 de ago. de 2019
- 6 min de leitura
Lá se vão dezesseis dias desde a última vez que havia conseguido escrever. A vida anda bem intensa por aqui. Além dos dias de surra depois da última QT, Dr XY me encheu de tarefas. No caso, de exames pra fazer. Mas gentchy, foi tanto exame, mas tanto exame, que agora meu cartão de milhagem nos laboratórios já deve estar me dando ida e volta pra Moscou.
Antes da bateria de exames começar, teve a consulta com o Dr. M, o cirurgião plástico. Ele foi falando bem manso, me contando que eu vou ficar cinco dias sem poder tomar banho completo. Já deu aquele nervoso, até porque a previsão do tempo anda alardeando que em breve voltaremos a superar a barreira dos trinta graus Celsius, o que, pra mim, significa sensação térmica de quase morte. Então, essa história de sem banho vai representar um aumento de muitos "mitos" na minha conta de luz, porque não estou me vendo fora do ar condicionado. Passados estes cinco dias, tudo correndo bem, passo a poder tomar banho que nem o Dino da Família Dinossauro. Sim, pra dar aquele gostinho de déjà vu, aquelas lembranças da época da cirurgia do ombro, eu não vou poder levantar os braços, vai ser tudo com bracinho de Horácio mesmo. Então, ou o Guga lava meus cabelos, ou vou ao salão pra fazer isso. Pelo menos três semanas, durante as quais só poderei dormir de barriga para cima. Super bacana, já que eu só durmo de bruços ou de lado. Penso que vai ser bem fácil e o sono vi ser bem reparador nessa temporada. Nessa primeira consulta com o Dr. M, cheguei a perguntar sobre atividade física, porque preciso de uma catarsezinha de leve pra manter a sanidade, mas a resposta me deixou tão fraca que nem consegui comentar: "Você não vai ficar acamada. Você pode, por exemplo, ir até a geladeira." Sem dó nem piedade, ele continuou: " Depois de umas semanas você vai poder caminhar e pegar um metrô, por exemplo". Cês tão imaginando a minha cara derretida, o meu estado de choque? Então... teve uma segunda consulta com o Dr. M, e eu resolvi ser mais clara, mas não sei o quanto adiantou... "Eu acho que você deve se programar pra não fazer exercícios por pelo menos quarenta e cinco dias". Mais um tapa na cara, mais uma voadora nos peitos... Eu ali, entre chocada e indignada, tentando negociar uma pedalada no rolo. Continuo determinada a tentar dar uma flexibilizada nesse repouso, para o bem da família e da humanidade.
Cheguei à conclusão que esse pessoal do ultrassom é realmente muito simpático. A médica que fez meu doppler (pra ver se tinha alguma trombose escondida, não foi pra ver as varize tudo não), logo que descobriu que eu era médica, virou minha bff. Conversamos sobre a UFRJ, as escolhas profissionais e até sobre a filha dela. Cada exame, uma nova surpresa e, quiçá, uma nova amizade. Minha amiga e cardiologista do coração (eita pleonasmo da peste), Dra Andréa Silvestre, fez meu risco cirúrgico, mas ficou meio incomodada quando descobriu que minha frequência cardíaca de repouso anda meio elevada. Coisas do chemocombo... Apesar disso, fui liberada pra cirurgia, e não saí de lá com nenhuma proibição de fazer exercício. Eu tenho medo de médico, porque eles tem mania de prescrever repouso pras pessoas. Grazadeus, meus amigos não fazem isso comigo. Ainda tenho fé que o Dr. M ainda vai dar uma aliviada nessas recomendações dele, quando sentir firmeza de que sou uma paciente boazinha e vou andar por aí bem amarradinha, pra nada sair do lugar. A outra pérola que ele me disse, é que só vou poder começar a radioterapia depois que o expansor tiver chegado no volume final. Mano do céu! Ele só vai começar a expandir depois de TRÊS semanas! Três semanas pra quem tá preso em casa, é uma vida. Eu estava com o boleto da São Silvestre impresso pra pagar, achando que ia dar pra fechar correndo (ou melhor, trotando lentamente) esse ano osso duro de roer, na sequencia de um 2018 que também não foi dos mais amigos, mas tive que abandonar essa idéia. Dr. M avisou que não vai rolar. Bom, resta arrumar uma vaga para a Drunks, uma corrida de final de ano curtinha e regada a chopp, aqui na orla do Rio mesmo. Mais adequado pro meu preparo físico atual, né nom? Pra completar o cenário de realização, recebi o orçamento (cheio de números!) da minha cirurgia de reconstrução. Cara, acho que nunca vi tanto número num só boleto. Morry. Fiquei fraca de novo. Em breve fraca e dura, mas com peitos modelo vinte anos em 2020.
Bom, passei pelo Dr. XY também, já estou pronta pra cirurgia. Só falta colocar a tal semente de iodo (eu tinha pensado que era de ouro, aff, aloca) pra marcar a peça cirúrgica. Ainda ando meio intrigada, sem entender bem como isso vai se dar, mas tranks. Já fiz tanto exame, que tanto faz mais uma esquisitice.
No meio disso teve o almoço de dia dos pais. Um sucesso! Casa cheia, muitas comidas e bebidas, aquela festança. E também teve a visita noturna de um bem-te-vi, que entrou na minha cozinha. O bicho se aboletou na escada/paneleiro que fica em cima do fogão, enquanto eu preparava uma sopa. A coisa mais doida do mundo. Umas nove da noite, aquele passarinho parrudo me fazendo companhia. Às vezes o gaiato arriscava um vôo pela cozinha, e voltava pra perto de mim. Fomos dormir e ele ainda estava lá. Acordei no meio da noite, dei uma olhada, e ele estava dormindo sossegado no mesmo lugar. Deve ter saído quando amanheceu. Só posso imaginar que é uma coisa boa um passarinho vir passar a noite na casa da gente.


O brejo, que anda com a água bem clarinha e um céu bem azul nesse inverno, a cadimia e meus amigos, andam me dando muita força pra seguir nessa maratona. Também tem a Dorinha, minha afilhada, que é outra luz na nossa vida. Ela tem me visitado muito mais do que eu a ela, mas a madrinha anda bem catrevada e enrolada... Pela São Salvador, a última moda é comprar uma peça de carne e pedir pro Zé fazer picadinho acebolado, naquela chapa de hambúrguer da barraquinha dele. Cês sabem que aqui a gente é amigo dos barraqueiros e dos ambulantes, né? O Zé é ogro e mal humorado, mas a gente gosta dele mesmo assim. O Pimenta, que a gente chama de Pepper, é um gentleman. Ele não trabalha aos domingos, tira uma folga para curtir a vida, aparece tomando whisky e tirando a maior onda na praça. Ele organizou uma vaquinha e arrecadou dinheiro pra comprar um gerador pra praça. Agora, ele organiza shows, de jazz até disco music, no nosso coreto. Muito animado o calendário da Pepper Productions. Qualquer dia vou falar sobre outros personagens da praça, que merecem um parágrafo só pra eles. Como a Katia Lee, que na verdade é Katia Ali, apelido que ganhou depois que foi vista gritando que tinha sido assaltada e alguém perguntou se tinha sido ela e onde. Daí ela gritava que tinha sido "a Kátia, ali", apontando pro local onde haviam surrupiado, agafanhado a pobre, que estava mais descompensada que a cotação do dólar nos dias de hoje. Se bem que nada que eu fale sobre ela vai chegar perto do que é a experiência de conhecê-la pessoalmente.

Esse final de semana fui novamente na casa do meu amigo babalorixá. A mulher maravilha carioca, aquela moça fabulosa que arrancou a tampa de ferro do bueiro no muque, estava lá, mas dessa vez não comprei cartela de ovos a R$8,99 e nem deixei o telefone cair no buraco. Fui e voltei no sapatinho, cheia de axé pra encarar esses dias que estão por vir.
Eu tenho várias coisas pendentes para fazer antes da cirurgia, mas sabe como é. Planejou, bagunçou. Spark, meu cão mais velho, comeu alguma bobagem que caiu no chão, e passou a segunda-feira inteira vomitando. Esse assunto é péssimo, eu detesto limpar vômito e me lembrei de quando João teve rotavírus. Foi quase no mesmo naipe. O pet sujou quase todas as roupas de cama da casa. Uma beleza...Rolou ainda uma ida à emergência veterinária, pro PETralha tomar remédio injetável. O cachorro parecia que estava possuído depois das injeções. Chorava, rodava pelo chão, se coçava, se arrastava nos pés dos móveis. Hoje ele tá de boas, tomando Vonau, meu remédio pra vômitos. Se eu soubesse que podia dar remédio de gente pro cachorro que, no final estava com gastrite, tinha economizado uns Bozinhos, mas ficou a dica pra próxima vez.
Acabei de tirar o último edredon da máquina, depois do exorcismo do Spark. Depois dessa temporada em casa, estou ficando ótima em administrar tarefas domésticas. Pensando em escrever um livro com dicas de sobrevivência para donas de casa pouco experientes. Agora vou à cadimia, pra aproveitar enquanto posso mover os braços. Não vai dar pra virar a Gracyanne Barbosa, mas enquanto a cirurgia não chega, preciso aproveitar pra me mexer tanto quanto puder, e reduzir os danos do longo e nada conveniente pós operatório. Torçam pro Dr. M ser bonzinho comigo. Mando notícias antes da cirurgia.



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